
O pai educa o filho olhando a falta, o problema,
aquilo que ele acha que, se o filho mudar, poderá ser mais feliz, mais aceito,
mais íntegro. Não faz isso por maldade. Mesmo sem acertar o alvo, faz isso por
amor.
O filho, do seu lado, também olha e julga o pai e a
mãe. Eles fizeram isso e aquilo, agora vivem este casamento sem sal nem
carinho. Papai trabalhou e nunca conseguiu nada – como pode me dar conselhos?
Mamãe só exige: ela que tem que dar carinho, não sou eu! Talvez o íntimo reaja
dessa forma, mas na atitude tenta, a todo custo, demonstrar amor aos pais.
Porém, o filho sente-se cobrado sempre por ser melhor, diferente, perfeito.
Pai e filho estabelecem uma relação de loucos: ambos
querem o bem, um do outro. Mas para alcançar o bem, julgam os erros e focam-se
nos problemas que o outro tem.
Este é o erro de um pensamento que considera o homem
como um ser separado do outro. Ledo engano. Não há nada separado de nada, muito
menos um pai e mãe separado do filho. Mesmo que fisicamente separados, são uma
coisa só, uma só emoção, e seguem um destino comum. Não há como a mão direita
ser próspera e saudável, sem a mãe esquerda também participar. Não existe a mão
certa e “um exemplo”, ao passo que a outra mão é um paria e um erro total. Não
é possível solucionar nada ao ver o outro errado, porque, no fundo, quem vê o
outro errado também vê a si mesmo, extremamente errado. E não existe ninguém
errado.
A constelação sistêmica mostra o problema como caminho
para a solução
A constelação sistêmica demonstra uma nova forma de
perceber o pai, a mãe, o filho. Pense em você desta forma. Não existe
separação. Pai, mãe e filho são um só corpo. Mesmo que os pais tenham se
separado, mesmo que o filho não tenha conhecido os pais, são um só corpo. E os
avós paternos e maternos também são parte deste corpo. Se existe um erro do
pai, este é um erro de todos. Se o filho acertou, todos acertaram. Mesmo que
não vivam juntos, esta a é noção sistêmica de família. O que se faz numa ponta,
ressoa na outra, quer queira, quer não. Se minha orelha direita levar um tapa,
todo o corpo sente.
O filho busca desesperadamente o amor dos pais. Quer o
carinho, a atenção, o colo, a compreensão. E a força, a orientação, a ajuda e o
impulso para um dia se libertar e alçar vôo sozinho. E quer mostrar: eu
consigo. Eu dou certo! Eu também sou forte e capaz! O pai busca desesperadamente
ser aceito pelo filho como pai. Quer vê-lo forte, com capacidade para se virar,
seja qual for a tempestade que ele enfrente. A mãe quer desesperadamente
acalentar o filho e protegê-lo. Poder segurá-lo no braço e simplesmente estar
presente, nos momentos em que ele a procura.
Não importam os atos reais dos pais, mães e filhos.
Não importam as separações, abandonos, maus tratos, desobediências, má-criação…
Pelo contrário: elas servem de luz para mostrar que algo precisa ser
reconsiderado. Sistemicamente falando, família possui uma energia invisível que
a impulsiona para a união, para a aceitação, para o perdão mútuo e o
crescimento conjunto. Mesmo quando houve divórcio, os laços sistêmicos clamam
por compreensão e aceitação. Quando isso não existe, os filhos carregam a dor
emocional. Não a dor do divórcio, mas a dor dos pais que não se aceitam. É
possível a aceitação, mesmo com a separação. E só isso já cura o corpo
familiar. Bem, eu sei… não é só. É um passo difícil. Mas necessário.
Todos os problemas precisam ser vistos e acolhidos.
Qualquer problema: vícios, traição, abandono, desvios de conduta, doenças,
fobias, medos, conflitos. Sistemicamente, problemas são partes do corpo
familiar que necessitam ser olhados, por mais doloroso que isso possa parecer,
a princípio. A dor emocional já existe interiormente, antes do problema, e
quando este surge, é a vida dizendo: olha! A ferida abriu. É o momento em que o
corpo está pronto para ser curado!
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